DRUNKEN BUTTERFLY

Cultura underground e textos doentios

domingo, novembro 05, 2006

NEVERMIND - 15 anos de Nirvana


Nós, ou seja, a nossa geração, crescemos com vídeo-game, show da Xuxa, Balão Mágico, fliperama, shopping center, televisão, etc. Vivemos a infância dos 80´s e sempre tivemos vergonha. Agora o saudosismo tomou conta de tudo e tem muita gente faturando um por aí... mas tudo bem! Isto não é o caso.
Mês passado (setembro), completou-se 15 anos do lançamento do mais fundamental disco da década de 90. O disco que subverteu toda a ordem das coisas, da zona de conforto e outras denominações para sistema. O que o 1º parágrafo tem a ver com o 2º? Que a minha geração teve oportunidade de ver a última banda inovadora do rock ou o último herói do rock´n´roll (calma, calma! Leia até o final, please). Não vou escrever mais um “textinho” contando faixa-a-faixa o disco, nem entrar naquele nhé-nhé-nhé de grunge, punk, etc. Vou falar o que sinto, o que vivi.
O início dos anos 90 desenhava-se mais cinzento que os 80´s. Nada de novo no front. Os maiores artistas do momento eram Madonna e Michel Jackson. Do lado rock, impera a farofice exagerada de Poison, Guns and Roses, Motley Crue, etc. O único suspiro criativo vinha de um disco doidão (The Real Thing) de uma banda doidona (Faith No More), mas esta estava ainda meio no submundo. De resto...
Eis que o Nirvana surge com um hino de tédio de toda a minha geração. Smells Like Teen Spirit e seu grito de guerra (“Aqui estamos nós, nos entretenha!”) balançaram a mesmice do pop/rock da época. A clip rodava a cada 15 minutos na MTV e até as rádios FM mais carolas se renderam. O rock simples, sujo, agressivo voltava a mandar. O glamour originário dos 80´s recebia seu golpe de misericórdia.
Lembro quando, molequinho de 12 anos, esperava as mais pedidas da extinta Studio 93 FM só para ouvir “Lithium” do mesmo Nirvana, do mesmo Nevermind ou a citada “Smells”. O Nirvana, ao lado do Ramones e Metallica, foram a minha iniciação no rock.
Depois de 15 anos, vale a reflexão: haverá alguma outra banda, nestes tempos de MP3, Ipod, MySpace, que agrida o showbizz assim como este trio fez?
Ouso falar que acredito que não.
Hoje o independente se mantém, underground como sempre. A vantagem dos recursos acima é que o pessoal pode divulgar seu som mais facilmente. Da mesma forma, a musica se massifica mais facilmente. O Nirvana foi a última “revolução” na música. Eles mostraram a verdadeira cara do jovem, sem aquela maquiagem barata, sem clipes de 15 minutos, sem show fantásticos. Eram 3 porras-loucas, como qualquer um de nós. 3 pessoas, baixo, bateria e guitarra, tédio e letras próximas a nós (drogas, amor, solidão, dor, vazio, etc).
Alguém afrontará o publico com esta intensidade?
E Kurt Cobain, um pleno desajustado do século XX. Família partida, insegurança, drogas, depressão. Quantos amigos seus, você enquadraria nestes casos?
Kurt não foi gênio, não foi herói. Foi um de nós. Mais um filhote do caos moderno. Não devemos idolotrar, tampouco reverenciar. Mas sentir saudade de uma época em que nós, os “excluídos do esquemão”, dominamos o mundo. E Nevermind foi nossa trilha sonora.
Cortesia (foto) : www.nirvanaclub.com

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