Conto
Alguns já leram. De qualquer forma, vou publicar para todo mundo.
Nossa Casa
Não havia o que fazer naqueles dias frios de inverno de Julho. Não havia uma partida de sinuca para jogar, nem um livro decente para ler. Nem mesmo comida havia na espelunca onde morava. Havia apenas um aparelho de som, que ganhei no meu aniversario de 13 anos, onde ouvia repetidas vezes o mesmo CD do Crosby, Stills, Nash e Young. Há tempos que somente ouvia esta porcaria de cd gravável. Não que tivesse apenas este, mas era o único CD que conseguia suportar.
Resolvi sair para pegar um pouco de sol na cara e fumar um cigarrinho. Antes de acender o maldito, fui tomar um café sem açúcar para me aquecer. Entrei no boteco, pedi um “pretinho” e fiquei olhando para o rosto horrendo do proprietário, cheio de espinhas e verrugas, com mil sulcos de velhice. Fiquei imaginando como eu ficaria daqui uns 40 anos e pedi a Deus para que fosse mais clemente comigo, quando ficar velho.
Com o peito aquecido, enrolei melhor a manta no pescoço e fui até o parque. Lá sim eu pude sentar e acender meu tabaco. Não passou 2 minutos, apareceu um mendigo bêbado para torrar meu saco:
- Ôooo alemão! Consegue um cigarrinho aí?
- Não tenho, amigo. Este é filho único - respondi
- Então me dá uma fumada.
Eu odeio quem fala fumada. Odeio mendigo. Odeio quem fila cigarro de desconhecido.
Dei duas tragadas profundas e deixei o resto do cigarro para o mendigo. Me mandei. Não conseguia ficar em paz, nem mesmo isolado em uma porcaria de parque.
Andei uma quadra e entrei noutro boteco. Estava rolando um jogo do Colorado na TV e meia dúzia de idiotas gritava como loucos. Pedi um maço de Marlboro e mais um café preto.
- Devias largar este vício – disse o bodegueiro – Eu fumei 13 anos, fiquei doente e estou aqui graças à minha mulher que me ajudou.
- E quem não tem mulher e nem família que se importe, o que faz? – respondi na lata – Quanto devo?
- 3 pilas! Larga o cigarro o quanto antes, cara.
Eu sempre tive nojo de ex-fumante. Na maioria dos casos, pregam contra o cigarro, enchendo o saco de quem fuma e se gabando do fato de conseguirem abandonar o vício. Como se eu estivesse muito preocupado em parar de fumar.
Sai do bar e desci a avenida deserta. Eram seis da tarde e, por causa do frio, não havia praticamente ninguém na rua. Assim era melhor, pois o risco de encontrar um imbecil era bem menor. Sem perceber, fui parar no Exposição. Adorava este bairro, era plano e se podia caminhar tranqüilo nele. Além disso, a Michele morava lá.
Fiquei um bom tempo pensando nela enquanto caminhava. Ela era como uma daquelas princesas de filmes, doces e tímidas. O que mais gostava nela eram seus cabelos ondulados e loiros. Alem, é claro, de seus olhos amendoados e um tanto ariscos. Como era tímida para burro, sempre que eu ligava e a convidava para sair, não negava e nem aceitava. Não gosto de mulher indecisa!
Passei bem em frente de sua casa, porém nada se movia e apenas uma lâmpada devia estar acesa. Neste momento, uma grossa neblina feito cortina de fumava, engolia a cidade. A merda encharcava meu rosto, as roupas e as mãos e não dava sinal de amenizar tão cedo.
Desanimado, retornei para meu moquifo. Minha saída havia sido infrutífera mesmo. Atirei as roupas úmidas sobre uma cadeira velha e deitei. Liguei o som, acendi um cigarro e fiquei ouvindo Neil Young cantar “our house, it´s a very fine house”. Adormeci assim mesmo. Queria a Michele deitada aqui comigo.
Nossa Casa
Não havia o que fazer naqueles dias frios de inverno de Julho. Não havia uma partida de sinuca para jogar, nem um livro decente para ler. Nem mesmo comida havia na espelunca onde morava. Havia apenas um aparelho de som, que ganhei no meu aniversario de 13 anos, onde ouvia repetidas vezes o mesmo CD do Crosby, Stills, Nash e Young. Há tempos que somente ouvia esta porcaria de cd gravável. Não que tivesse apenas este, mas era o único CD que conseguia suportar.
Resolvi sair para pegar um pouco de sol na cara e fumar um cigarrinho. Antes de acender o maldito, fui tomar um café sem açúcar para me aquecer. Entrei no boteco, pedi um “pretinho” e fiquei olhando para o rosto horrendo do proprietário, cheio de espinhas e verrugas, com mil sulcos de velhice. Fiquei imaginando como eu ficaria daqui uns 40 anos e pedi a Deus para que fosse mais clemente comigo, quando ficar velho.
Com o peito aquecido, enrolei melhor a manta no pescoço e fui até o parque. Lá sim eu pude sentar e acender meu tabaco. Não passou 2 minutos, apareceu um mendigo bêbado para torrar meu saco:
- Ôooo alemão! Consegue um cigarrinho aí?
- Não tenho, amigo. Este é filho único - respondi
- Então me dá uma fumada.
Eu odeio quem fala fumada. Odeio mendigo. Odeio quem fila cigarro de desconhecido.
Dei duas tragadas profundas e deixei o resto do cigarro para o mendigo. Me mandei. Não conseguia ficar em paz, nem mesmo isolado em uma porcaria de parque.
Andei uma quadra e entrei noutro boteco. Estava rolando um jogo do Colorado na TV e meia dúzia de idiotas gritava como loucos. Pedi um maço de Marlboro e mais um café preto.
- Devias largar este vício – disse o bodegueiro – Eu fumei 13 anos, fiquei doente e estou aqui graças à minha mulher que me ajudou.
- E quem não tem mulher e nem família que se importe, o que faz? – respondi na lata – Quanto devo?
- 3 pilas! Larga o cigarro o quanto antes, cara.
Eu sempre tive nojo de ex-fumante. Na maioria dos casos, pregam contra o cigarro, enchendo o saco de quem fuma e se gabando do fato de conseguirem abandonar o vício. Como se eu estivesse muito preocupado em parar de fumar.
Sai do bar e desci a avenida deserta. Eram seis da tarde e, por causa do frio, não havia praticamente ninguém na rua. Assim era melhor, pois o risco de encontrar um imbecil era bem menor. Sem perceber, fui parar no Exposição. Adorava este bairro, era plano e se podia caminhar tranqüilo nele. Além disso, a Michele morava lá.
Fiquei um bom tempo pensando nela enquanto caminhava. Ela era como uma daquelas princesas de filmes, doces e tímidas. O que mais gostava nela eram seus cabelos ondulados e loiros. Alem, é claro, de seus olhos amendoados e um tanto ariscos. Como era tímida para burro, sempre que eu ligava e a convidava para sair, não negava e nem aceitava. Não gosto de mulher indecisa!
Passei bem em frente de sua casa, porém nada se movia e apenas uma lâmpada devia estar acesa. Neste momento, uma grossa neblina feito cortina de fumava, engolia a cidade. A merda encharcava meu rosto, as roupas e as mãos e não dava sinal de amenizar tão cedo.
Desanimado, retornei para meu moquifo. Minha saída havia sido infrutífera mesmo. Atirei as roupas úmidas sobre uma cadeira velha e deitei. Liguei o som, acendi um cigarro e fiquei ouvindo Neil Young cantar “our house, it´s a very fine house”. Adormeci assim mesmo. Queria a Michele deitada aqui comigo.
3 Comentários:
Ô Dani, velho amigo.... legalo texto, profundo coisa e tal... mas juro que nunca mais vou te falar sobre crivo! Nossa, não é bem assim, que todo ex fumante fica chato e se gabando porque conseguiu, na real até hj eu fumo, hehe... Mas td bem, fica aí com teu velho amigo, e se acha que não te faz mal, não largue horas bolas!! Mas não pensa que eu não falava de verdade pensando na saúde do cara viu? Bom, passou, não tá mais aqui quem falou! Beijos enfumaçados..... Aline.
Bem melancólico, não!?
Aline, o comentário foi para "incrementar" o estado deprê do personagem.
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