DRUNKEN BUTTERFLY

Cultura underground e textos doentios

quarta-feira, novembro 22, 2006

Mais um continho

As resenhas deram um tempo, mas voltam. Estou ouvindo um monte de coisas estranhas e não sei como resenhar...
Já falei que estou em uma fase meio sem inspiração, então vou colocar um conto que escrevi há uns 6 meses. Segue :
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O COADJUVANTE

Caminho por uma rua úmida e fria da minha cidade. A cidade que mais amo e que mais detesto. A amo, pois foi aqui que cresci, que aprendi a viver, que fiz amizades, que curti, enfim...
A detesto por um simples motivo: foi aqui que sofri a maior dor da minha vida, que contarei agora.
Durante anos, amei minha ex-esposa. Mais precisamente, desde minha infância a amei. Fomos colegas de escola e começamos a namorar na adolescência. Nunca conheci outra mulher e era totalmente dedicado a ela. Era o que todo mundo chamava de “o grande amor de uma vida”.
E ela era um anjo. Meu anjo de cabelos dourados e sorriso celestial. Amável, doce e carinhosa. Falávamos-nos todos os dias e todos os dias eram maravilhosos por isto.
Como eu era feliz, meu Deus!
Ontem, saí do trabalho e fui direto para casa. Encontrei-a sentado no sofá da sala chorando. Abracei-a e perguntei o que havia:
- Bruno, eu não agüento mais guardar um segredo e preciso lhe contar, por mais que doa ou te magoe!
- Meu amor, nada que falares vai me magoar. Eu lhe entenderei.
- Até saber que eu amo outro homem?
Tonteei. Minha cabeça pesou sobre os ombros e me encolhi no sofá, procurando sumir. Nunca houve nada que pudesse abalar, não havia motivos para qualquer sentimento ruim que pudesse nos levar a uma briga. Agora, eu vi uma outra pessoa intrometendo-se em nossas vidas (em nossa vida, pois éramos uma coisa só).
Não quis saber de detalhes. Não quis saber quem era. O amor desta mulher sempre foi meu e agora o perdia, miseravelmente.
Ela procurava meus braços, tremendo. O esforço em me contar isto deve ter sido enorme. Amava tanto Claudia que não a repeli. Coloquei-a perto de mim, como de costume, tocando seus lindos cabelos e enxugava suas lágrimas que lavavam seu rosto de princesa.
Mas que merda! Não saía uma só palavra de minha boca. Não conseguia pensar em nada que não parecesse ridículo. Sentia como se precisasse falar russo com um alemão, tamanha a distância e dificuldade em escolher algo sensato para falar.
Ela levantou-se e me olhou nos olhos. Não podia acreditar que minha menina fugia de mim. Lembrei de 15 anos atrás, quando a conheci. Seu olhar tinha a mesma mágica que me deixava completamente rendido, entregue a maior paixão que um homem pode provar.
Levantei-me também e quando procurei seus lábios, ela fugiu correndo para o quarto. Percebi que não adiantava tentar.
Saí de casa e passei toda a noite na rua, onde estou até agora. Após lavar minha alma com lágrimas e álcool, estou pronto para me despedir do grande amor da minha vida.
Abri a porta do nosso apartamento e chamei por Claudia. Ela apareceu com todo aquele jeitinho meigo e correu até mim para me abraçar.
- Pensei que tivesse morrido ou qualquer outra coisa. Pensei que nunca mais iria te ver! – ela chorava e gritava.
- Eu vou embora, Claudia. Vim pegar minhas coisas.
- Vai abandonar tudo, sem lutar, sem reagir?
- Você ama outra pessoa. Não tem porque continuarmos, não há por que lutar.
- Mas, tão simples assim.
- Simples? Decidir abandonar a pessoa que mais amo lhe parece simples?
- Não !
- Então...
Fui forte, não podia voltar atrás agora. Fui ao quarto arrumar minhas coisas. Ouvia o choro angustiado de Claudia vindo da sala. Parei.
“Ela não te ama mais, ela não te ama mais...”.
Segui em frente, implorando para ficar surdo. Terminei a mala e cruzei por ela.
- Claudia, sempre vou te amar.
- Fique aqui !
- Não dá!
- Eu vou voltar a ser tua.
Apenas sorri e fechei a porta. Serei, a partir de agora, coadjuvante e não protagonista.

domingo, novembro 05, 2006

NEVERMIND - 15 anos de Nirvana


Nós, ou seja, a nossa geração, crescemos com vídeo-game, show da Xuxa, Balão Mágico, fliperama, shopping center, televisão, etc. Vivemos a infância dos 80´s e sempre tivemos vergonha. Agora o saudosismo tomou conta de tudo e tem muita gente faturando um por aí... mas tudo bem! Isto não é o caso.
Mês passado (setembro), completou-se 15 anos do lançamento do mais fundamental disco da década de 90. O disco que subverteu toda a ordem das coisas, da zona de conforto e outras denominações para sistema. O que o 1º parágrafo tem a ver com o 2º? Que a minha geração teve oportunidade de ver a última banda inovadora do rock ou o último herói do rock´n´roll (calma, calma! Leia até o final, please). Não vou escrever mais um “textinho” contando faixa-a-faixa o disco, nem entrar naquele nhé-nhé-nhé de grunge, punk, etc. Vou falar o que sinto, o que vivi.
O início dos anos 90 desenhava-se mais cinzento que os 80´s. Nada de novo no front. Os maiores artistas do momento eram Madonna e Michel Jackson. Do lado rock, impera a farofice exagerada de Poison, Guns and Roses, Motley Crue, etc. O único suspiro criativo vinha de um disco doidão (The Real Thing) de uma banda doidona (Faith No More), mas esta estava ainda meio no submundo. De resto...
Eis que o Nirvana surge com um hino de tédio de toda a minha geração. Smells Like Teen Spirit e seu grito de guerra (“Aqui estamos nós, nos entretenha!”) balançaram a mesmice do pop/rock da época. A clip rodava a cada 15 minutos na MTV e até as rádios FM mais carolas se renderam. O rock simples, sujo, agressivo voltava a mandar. O glamour originário dos 80´s recebia seu golpe de misericórdia.
Lembro quando, molequinho de 12 anos, esperava as mais pedidas da extinta Studio 93 FM só para ouvir “Lithium” do mesmo Nirvana, do mesmo Nevermind ou a citada “Smells”. O Nirvana, ao lado do Ramones e Metallica, foram a minha iniciação no rock.
Depois de 15 anos, vale a reflexão: haverá alguma outra banda, nestes tempos de MP3, Ipod, MySpace, que agrida o showbizz assim como este trio fez?
Ouso falar que acredito que não.
Hoje o independente se mantém, underground como sempre. A vantagem dos recursos acima é que o pessoal pode divulgar seu som mais facilmente. Da mesma forma, a musica se massifica mais facilmente. O Nirvana foi a última “revolução” na música. Eles mostraram a verdadeira cara do jovem, sem aquela maquiagem barata, sem clipes de 15 minutos, sem show fantásticos. Eram 3 porras-loucas, como qualquer um de nós. 3 pessoas, baixo, bateria e guitarra, tédio e letras próximas a nós (drogas, amor, solidão, dor, vazio, etc).
Alguém afrontará o publico com esta intensidade?
E Kurt Cobain, um pleno desajustado do século XX. Família partida, insegurança, drogas, depressão. Quantos amigos seus, você enquadraria nestes casos?
Kurt não foi gênio, não foi herói. Foi um de nós. Mais um filhote do caos moderno. Não devemos idolotrar, tampouco reverenciar. Mas sentir saudade de uma época em que nós, os “excluídos do esquemão”, dominamos o mundo. E Nevermind foi nossa trilha sonora.
Cortesia (foto) : www.nirvanaclub.com